The_Door_Hell

Saturday, July 10, 2004

Magia Amarela

Muitos dos textos existentes sobre o que se chama tradicionalmente de "magia solar"
contradizem-se mutuamente ou sofrem de confusões internas. Os comentários
astrológicos a respeito dos supostos poderes do sol estão entre os mais idiotas e sem
sentido que a disciplina pode produzir. Isto ocorre porque o poder amarelo possui
quatro formas distintas, porém relacionadas, dentro da psique. Esta divisão quádrupla
tem induzido a imensos problemas em psicologia, onde várias escolas de pensamento
escolhem enfatizar um aspecto em particular e ignorar aqueles aos quais as outras
escolas tem se dedicado. Os quatro aspectos podem ser caracterizados como se segue.
Primeiro, o ego - ou auto-imagem: que é, simplesmente, o modelo que a mente tem da
personalidade em geral. Desta definição excluem-se muitos dos padrões de
comportamento extremados dos quais os eus são capazes. Segundo, o carisma que é o
grau de autoconfiança que a pessoa projeta para as outras. Terceiro, algo para o qual
não há uma palavra específica em inglês ou português: talvez possa ser chamado de
criatividade da risada. Quarto, a ânsia de afirmação e domínio. Todas essas coisas são
manifestações do mesmo poder amarelo, embora suas ênfases relativas variem
enormemente entre os indivíduos.
O sucesso em muitas sociedades humanas normalmente resulta de uma hábil expressão
do poder amarelo. A força do poder amarelo em um indivíduo parece manter uma
relação direta com os níveis do hormônio sexual testosterona em ambos os sexos,
embora sua expressão dependa da psicologia pessoal. Existe uma influência mútua
complexa entre os níveis de testosterona, auto-imagem, criatividade, status quo e
necessidades sexuais, mesmo que não estejam manifestos. Em termos esotéricos, a Lua é
o poder secreto por trás do Sol, como muitas magas percebem instintivamente e muitos
magos descobrem mais cedo ou mais tarde. O ego se forma gradualmente através dos
acidentes da infância e da adolescência e, na ausência de poderosas experiências
posteriores, permanece razoavelmente constante, mesmo que contenha elementos
totalmente inadaptáveis. Qualquer tipo de invocação poderia fazer diferença para o
ego, porém um trabalho direto com ele pode fazer muito mais. Estão envolvidos muitos
truques neste processo. O próprio reconhecimento do ego implica que a mudança é
possível. Somente aqueles que percebem que tem uma personalidade ao invés de
consistirem de uma personalidade podem mudá-la. Para muitas pessoas, a preparação
de um inventário detalhado de suas próprias personalidades é uma atividade muito
difícil e transtornante. Porém, uma vez realizada, é normalmente muito fácil decidir que
mudanças são desejáveis. Mudanças no ego, na auto-imagem ou na personalidade
através da magia são classificadas como trabalhos de iluminação e são, principalmente,
realizadas por encantamentos retroativos e invocações. Encantamento retroativo, neste
caso, consiste em rescrever a nossa história pessoal. Como nossa história define
amplamente o nosso futuro, podemos mudar o nosso futuro redefinindo nosso passado.
Todas as pessoas possuem certa capacidade para reinterpretar as coisas que deram
errado no passado sob uma luz mais favorável, porém muitas falham em perseguir o
processo até o final. Nós não podemos eliminar as memórias limitantes e incapacitantes,
porém, por um esforço de visualização e imaginação, podemos escrever em paralelo
memórias edificantes e capacitantes do que também poderia ter acontecido. Isso irá
neutralizar as originais. Nós podemos também, quando possível, modificar alguma
evidência física remanescente que favoreça a memória limitante.
As invocações para modificar o ego são encantamentos e personificações rituais das
novas qualidades desejadas. Deve-se dar atenção às modificações planejadas no
vestuário, tons de fala, gestos, maneirismos e na postura do corpo que irão melhor
corresponder ao novo ego. Um artifício muito usado em magia amarela é praticar a
manifestação de uma personalidade alternativa através de um gatilho mnemônico
simples tal como a transferência de um dedo para outro.
Várias formas de deus são utilizadas para criar manifestações novas e fortes do ego e
para experimentos com as outras três qualidades do poder amarelo. São exemplos: Rá,
Helios, Mithras, Apolo e Baldur.
Carisma, a projeção de uma aura de autoconfiança, é baseado num truque simples.
Após um curto espaço de tempo não há diferença nenhuma entre simulada e a
verdadeira autoconfiança. Qualquer um que deseje remediar a falta de confiança e
carisma e que esteja em dúvida sobre como começar a aparentar estas qualidades,
poderá descobrir que um ou dois dias gastos aparentando um zero absoluto de
autoconfiança irão revelar rapidamente: a eficácia da simulação e os pensamentos,
palavras, gestos e posturas específicos requeridos para projetar qualquer simulação.
Parece que não se pode dizer nada a respeito da risada e da criatividade. Porém, o
humor depende de uma súbita formação de uma nova conexão entre conceitos
desconexos. Nós rimos da nossa própria criatividade em formar esta conexão.
Exatamente a mesma forma de exaltação surge de outras formas de atividade criativa e,
se o insight vem repentinamente, a risada é o resultado. Se não somos capazes de rir
quando vemos uma peça realmente brilhante de matemática, então não somos capazes
de entender isto. Também é necessário um certo grau de auto-estima e autoconfiança
positivas para rir de algo criativamente divertido. As pessoas de baixa auto-estima
tendem unicamente a rir do humor destrutivo e da desgraça dos outros; isso se rirem.
A risada é, freqüentemente, um fator importante nas invocações das formas de deus do
poder amarelo. A solenidade não é um pré-requisito para o ritual. A risada é também
uma tática comum para atrair a atenção da consciência para longe dos sigilos ou outras
conjurações mágicas, uma vez terminados os trabalhos com eles. O forçar deliberado de
uma risada histérica pode parecer um caminho absurdo para encerrar um
encantamento ou uma invocação, porém isto tem se mostrado extraordinariamente
eficiente na prática. Isto pode ser considerado como uma "destreza da mente" artificial
que evita a deliberação consciente.
A "ordem da bicada" dentro de vários grupos de animais sociais é, normalmente,
imediatamente evidente para nós e para os próprios animais. Dentro de nossa própria
sociedade, tais hierarquias de domínio são igualmente comuns em todos os grupos
sociais, embora possamos ir a extremos para disfarçar isto de nós mesmos. A situação
humana ainda é mais complicada pela nossa tendência de pertencer a muitos grupos
sociais, nos quais podemos ter diferentes níveis de status social, e o status social é,
freqüentemente, parcialmente dependente de outras habilidades especializadas ,
diferentes da força bruta. Entretanto, assumindo que uma pessoa possa parecer
competente na habilidade especializada que o grupo social requer, a posição pessoal no
grupo depende quase inteiramente do grau de afirmação e domínio que a pessoa exibe.
Estes são exibidos basicamente através do comportamento não-verbal que todos
entendem intuitivamente ou subconscientemente, mas que muitos não entendem
racionalmente. Como conseqüência, eles não podem manipulá-lo deliberadamente. O
comportamento de domínio típico envolve o falar alto e lentamente, usando muito o
contato visual, interromper a fala dos outros enquanto resiste à interrupção feita por
estes, manter uma postura ereta de ameaça disfarçada, a invasão do espaço pessoal dos
outros enquanto resiste à invasão de seu próprio espaço e colocar-se estrategicamente
em algum lugar no foco de atenção. Em culturas onde o toque é freqüente, o dominador
sempre o inicia ou, intencionalmente, o recusa. Em ambos os casos, ele domina o
contato.
O comportamento submisso é, logicamente, o reverso de tudo acima e aparece muito
espontaneamente em resposta ao domínio bem sucedido de outros. Há uma interação
em mão dupla entre o comportamento de domínio e os níveis de hormônios. Se o nível
muda, por razões médicas, então o comportamento tende a mudar; porém, mais
importante do ponto de vista mágico, é que uma mudança deliberada do
comportamento irá modificar os níveis de hormônio. "Finja isto até que você o faça".
Não há nada particularmente oculto com a maneira que algumas pessoas são capazes
de controlar outras. Nós simplesmente não notamos como isto é feito porque quase
todos os sinais comportamentais envolvidos são trocados subconscientemente. Os sinais
de domínio tendem a não funcionar se os seus recebedores os percebem
conscientemente. Deste modo, em muitas situações, eles devem ser liberados
discretamente e com um aumento gradual na intensidade. Uma das poucas situações
em que estes sinais são enviados deliberadamente é nas hierarquias militares, porém
isto só é possível por causa da imensa capacidade de coerção física direta que tais
sistemas exibem. Quebre as regras formais de comunicação não-verbal com um oficial e
terá um sargento para inculcar-lhe alguma submissão por meios diretos. Eventualmente
as regras formais são absorvidas e funcionam automaticamente, criando obediência
suficiente para permitir o auto-sacrifício e a matança em massa. O poder amarelo é a
raiz de muito do melhor e do pior que nós somos capazes.

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